Ocupar Wall Street e a democracia dos 99%

Posted on 18/10/2011

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Os 99% decidem ir à luta em Toquio e em todo o mundo

Este fim de semana, comecei a acreditar que o mundo pode ser muito melhor na segunda década do século XXI. No último sábado, 15 de outubro, milhares de pessoas, em mais de 950 cidades de quase 90 países, tomaram as ruas e as praças para protestar contra o sistema financeiro e cobrar uma democracia em que eles possam participar de forma mais direta das decisões do governo.

Desde a praça Tahrir, no Egito, passando pela Puerta del Sol, na Espanha, e chegando a Wall Street, nos EUA, o que os olhos de um observador mais atento podem perceber é um fabuloso renascimento das cidades como espaço público e lugar privilegiado dos grandes embates sociais. Ao mesmo tempo, acompanhamos os primeiros importantes passos de um novo ambiente de debate político, econômico e cultural: as redes digitais de produção e distribuição de informação.

A interconexão das ruas de concreto com as ruas digitais estão permitindo, pela primeira vez na história da humanidade, que os manifestantes de Nova Iorque se comuniquem diretamente e rapidamente com os indignados de Madri e com os estudantes de Santiago, colaborando para a construção de um movimento em escala global e subvertendo (e contrapondo) a tradicional mediação das grandes corporações de mídia.

As decisões dos governos mais afetados pela crise, como a Espanha, de promover um ajuste fiscal rigoroso e penalizar toda a população sob o discurso de que é o caminho mais adequado contra a crise, gerou o seguinte questionamento: “nós não participamos das decisões que levaram à crise, porque temos que pagar por ela?”. Esse questionamento gerou uma reivindicação: “se temos que arcar com as consequências de uma decisão do governo, temos o direito de participar desse processo de decisão”. Ou seja, os manifestantes que saíram às ruas neste 15 de outubro também querem a ampliação da cidadania e rejeitam o modelo de democracia que os mantém à margem das esferas de decisão do poder público.

A popularização das redes digitais de produção e distribuição de informações abre grandes perspectivas para a participação direta, de sujeitos individuais e coletivos, nos processos de elaboração e execução de políticas públicas, viabilizando meios de o cidadão poder participar da geração de indicadores sociais e econômicos; da avaliação de propostas de gestão; e do apontamento de soluções.

Essa parceria entre a internet e as ruas, que começamos a experimentar, talvez seja o início da construção de um modelo de governo em rede no qual administração pública e população atuam de maneira sinérgica e em diálogo constante para a construção do bem comum que atenda às necessidades dos 99%, que todos os dias saem de casa para construir a vida, e não dos 1%, que jogam nas bolsas de valores com a vida e os sonhos de cada um de nós.

Posted in: Política